terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Um olhar sobre eu personagem e o pânico da solidão

O objetivo deste trabalho é tão somente lançar um olhar sobre o texto selecionado de Paula Sibilia. Após ler este capítulo de obra “Eu personagem e o pânico da solidão”, passei a questionar o meu lugar diante das mídias e novas tecnologias da virtualidade. Me posicionando em um lugar comum perigoso, fico entre os caminhos de quem pode viver sem internet, porém usufrui constantemente dela, lembrando longinquamente que tias críticas à web e suas benesses\seus malefícios me lembram vagamente ruídos que ouvi sobre a TV, veículo ao qual –este sim –nasci e cresci ao lado.
Aqui não poderia me prestar ao rigor acadêmico, pois toda a reflexão é ainda muito recente para mim. O que fiz é algo como um ensaio-resenha-crônica de um texto que me estranhou –no sentido de estranhamento\novidade –e no qual por vezes me vi passionalmente ligado positivamente às idéias de Sibilia e por outras acreditei ver em suas palavras uma crítica a certas condutas das quais eu compartilhei e não necessariamente cheguei a concordar com a autora.
Se em determinados momentos parecer que estou concordando ou discordando de Paula Sibilia, em meu íntimo apenas estava refletindo suas palavras. São idéias que se debruçam sobre algo muito recente, atual e que mesmo ela não chega a atingir tais questões da maneira mais acadêmica tradicional ou como sonharia o mais intenso dos pesquisadores de comunicação –ao invés da pressão por autores atuais, ela dialoga a internet e a web principalmente com Walter Benjamin e Guy Debord.
Assim, estando em outro campo de pesquisa e pouco tendo refletido sobre mídias da virtualidade e a sociedade que a cerca, pouco mais farei que deixar meus pensamentos fluírem sobre o assunto.


O olhar sobre outro olhar

Eu não nasci com um computador na mão, mas na minha casa –de meu avô, em realidade –já tinha televisão. Cheguei a ver quando a velha TV preto e branco foi trocada por uma colorida. Tinham vizinhos que iam e vinham, de acordo com a programação televisiva, bem como algumas horas eram sagradas para nós crianças, pois era hora de determinado desenho animado ou uma série imperdível.
Pois bem, pouco tempo depois veio o computador, e de lá para cá alterno momentos em que me sinto integrado e outros apocalípticos; momentos de estabelecido e de outsider. Desta maneira, o texto de Paula Sibilia mexe com uma pergunta íntima, na qual eu me questiono “afinal, como é que eu me encaixo em tudo isto?”.
Embora ela cite que ao artesão medieval, importava à sociedade ao seu entorno “o que ele fazia, e não o que ele era ”, me questiono se já nas sociedades medievais não havia jogos de papéis e de representações. Em realidade, falando como o historiador que pretensamente sou, tenho dificuldades em compreender reais mudanças no caráter humano ao longo de sua história, embora aqui não se trate precisamente de uma questão de caráter –nem o deixe de ser.
Já na década de 1930 Walter Benjamin afirmava que a narrativa estava em crise e a fábula quase perdida. Por vezes penso que com o advento da internet algo de narrativo e fabuloso volta às contações de história e suas variações, mas como isso ocorre ou se de fato ocorre, não posso dizer. Fruto desta geração híbrida que não nasceu com computadores mas em menos de uma década já começou a ter acesso a eles, consigo vislumbrar um mundo o qual não posso definir. Sei que o texto de Sibilia não é exatamente um farol para os mares tortuosos.
Não creio, fundamentalmente, que as belas narrações são um caso perdido, por exemplo. Acredito que é possível encontrar uma nova narrativa bela em meio ao mar tecnológico, bem como questiono –a mim mesmo –se em meio à quantidade não está contida –no oceano mais profundo e tenebroso –algumas qualidades. Chego até a imaginar que bom narrador cometeria o erro de colocar suas belas narrações na rede, sujeitando-se ao que há de pior, que não é a visibilidade, mas o milenar plágio que também se acelerou com os veículos virtuais.
Quanto ao brilho proporcionado pelas mídias, gerador de “celebridades que nascem e morrem sem nada ter feito de extraordinário” , continuo no plano dos questionamentos intermediários e levanto o ponto se é de fato ruim uma sociedade em que a fama atinge uma quantidade maior de pessoas. De um viés democrático, penso que a fama esteve historicamente ligada aos grandes homens e mulheres, oriundos principalmente de uma elite social. Embora este panorama não tenha encontrado o seu fim com a web, a democratização dos meios, que está ocorrendo no ocidente a passos lentos porém profícuos, acaba por democratizar as possibilidades, ocasionando assim um novo circuito de famosos.
O que cabe debater igualmente é o seguinte: podendo eu ser um famoso, o que, afinal, há de mais em um famoso? Ou seja, quando qualquer um pode ser um famoso, podemos começar a questionar o que tinham a mais os antigos famosos além de um glamour inacessível. Mas a aura está em declínio e com ela o glamour, “democratizando a fama”, percebo a humanidade dos antigos famosos, bem como a falsidade de diversas famas. Imagino ainda que os que superaram a todos os famosos efêmeros e se perpetuar no patamar mais alto, este sim será o famoso mais glamuroso, pois atingiu seu píncaro quando qualquer um se arvorava a alcançá-lo.
Sobre o eu alterdirigido e mutante , é talvez na indústria fonográfica onde podemos detectar o maior número de exemplos de como, neste momento, Sibilia atinge uma razão quase sem rebatimentos. A personalidade mutante é uma constante, por exemplo, no mundo pop musical, em que já não há qualquer fidelidade a estilos ou estéticas. Os chamados megastars, como Michael Jackson, David Bowie e Madonna, por exemplo, conseguem agregar valor a suas obras exatamente por serem mutantes, estando mais a mercê das volúpias do mercado que ao agrado dos fiéis fãs. Os códigos e as regras mudam, os astros são, em alguma medida, catalisadores e por outro lado sujeitos para além de qualquer escolha, pois devem estar interagindo constantemente com esses novos costumes e códigos, devendo igualmente serem facilmente adaptados ao dinamismo das mídias.
Entretanto, no momento em que Sibilia afirma que “essa dificuldade para conciliar o eu público e o eu privado (...) provavelmente esteja se extinguindo hoje em dia” , aqui volto a repensar o caso de que com a democratização dos meios, o glamour é igualmente democratizado ou totalmente desvendado. Ou seja, quando temos a percepção do que é uma edição, percebemos também que o famoso ostenta tal estatus em função de ter apresentado na esfera pública uma vida editada. Quando um indivíduo atinge acesso a meios de produção audiovisuais, alcança a possibilidade de editar a própria vida e percebe os truques e as tramas que revelam os famosos. Ao tentar uma boa filmagem de si e perceber que esta não foi possível pela falta de uma boa maquiagem e uma boa iluminação, compreende que a beleza do famoso, por exemplo, está vinculada a todo o domínio de uma técnica e tecnologia para além da mera beleza natural.
Também é perceptível, nos antigos famosos, o quanto eles preservavam a sua imagem, tornando um escândalo algo tremendo em função de ninguém conceber que Charles Chaplin batia na esposa ou que determinado ator/atriz detestaria, por exemplo, pobres ou era racista. Estando isto relacionado com a vida editada e com um caráter velado, a publicização da vida privada acaba por decretar o fim da separação entre esfera pública e esfera privada –o eu público e o eu privado- de artistas e humanizando-os ainda que contra a vontade destes.
De qualquer maneira pode surgir deste meio um novo tipo de artista com suas técnicas e conhecimentos mais palpáveis, o que é uma outra realidade. Com a facilidade do alcance à web, o autodidatismo fica mais latente. Cursos, vídeos e métodos antes confinado aos conservatórios e escolas agora podem ser acessados pela web, permitindo que o artista, por exemplo, possua um conhecimento construído no eu privado. A disponibilização destas informações pelos próprios autodidatas que usufruíram destes dados amplia a quantidade de pessoas que continuam acessando e se formando –ainda que majoritariamente de maneira parca –tornando o saber sobre uma determinada técnica algo menos mítico. Com isto pode-se até perceber que “fulano ou beltrano” não possui um conhecimento tão inestimável assim, ou que aquilo que se realiza não é um grande feito, pois agora se sabe como atingir tal saber.
Embora os reality shows sejam absolutamente tudo o que Sibilia afirma –ou ainda piores –eu, que estou no limbo entre a velha TV citada acima e o acesso às tecnologias da virtualidade, ainda sinto falta de que sejam citados determinados elementos positivos da web. O mesmo youtube, por ela tão duramente criticado, possui tantos programas e documentações visuais importantes, colocadas ali por usuários que deveriam ser melhor acessados por acadêmicos. Cito, por exemplo, o caso de minhas pesquisas sobre música na televisão durante o regime militar brasileiro. No Rio de Janeiro, o Museu da Imagem e do Som e parte do acervo visual da TV Globo pegaram fogo, sobrando apenas alguma coisa. Com o surgimento do youtube, usuários colocaram ali toda a sorte de festivais musicais televisivos, entrevistas de décadas atrás com cantores que vivenciaram o período, sendo agentes históricos ativos, que não posso me debruçar por muito tempo apenas a criticar negativamente a fonte de tantas informações.
No mesmo youtube estão também tutoriais e diversos manuais visuais que facilitam a utilização de diversas ferramentas, antes privilégio de alguns. Assim podemos, por exemplo, visualizar como se fosse uma aula a maneira de aprender quase qualquer programa –softwere- a ser instalado em um computador. Através dos fóruns tira-se dúvidas e nos portais de relacionamento podemos trocar informações sem que a preocupação primordial seja a fama de poucos minutos (ou segundos). Porém aos olhos de Sibilia este fato pode ter sido relegado a um segundo plano em função, claro, de ela estar tratando da constituição de uma personagem nas sociedades contemporâneas recentes, do início do século XXI.
No tocante às alterações corporais e à obrigação de ser singular , aqui a autora toca em um assunto que vem beirando o cúmulo do bizarro. Quando vemos que para atingir tal singularidade artistas como Marlin Manson deformaram todo o corpo, serrando os dentes e fazendo diversos implantes até tornar-se o que em qualquer época da humanidade seria um monstro, é porque sequer temos a clara noção do que é ser único ou que para ser único devemos nos afastar o quanto mais for possível do aspecto de humanidade. Isto sim é o que a autora afirma ser “converter o próprio eu em um show”, espetacularizar a própria personalidade “recorrendo a métodos comparáveis aos de uma grife pessoal que deve ser bem posicionada no mercado. Pois a imagem de cada um é a sua própria marca, um capital tão valioso que é necessário cuidá-lo e cultivá-lo, a fim de encarnar um personagem atraente no competitivo mercado dos olhares” .
É interessante notar como Sibilia percebe a queda da aura individual, que “teria se apagado com a proliferação de cópias, simulacros e falsificações de subjetividades descartáveis na sociedade do espetáculo, com sua fábrica de personagens alterdirigidas. Daí a ansiedade atual por recompor de algum modo a aura perdida, por se apropriar de qualquer coisa que pareça aparentada com aquela auréola de unicidade tão difícil de conseguir hoje em dia” . Remete um pouco a Freud quando este escreve sua obra de psicanálise coletiva titulada O Mal Estar da Civilização, em que o homem estaria eternamente procurando o elo perdido com a natureza ao mesmo tempo em que estaria invariavelmente se afastando da própria natureza e de suas leis, utilizando-se de artifícios –como os jardins ou vasos de plantas nas janelas de apartamentos –para provar a si mesmo que ainda está conectado com o natural.
Chegando a um ponto em que Sibilia cita mais uma vez Benjamin, explicitando o quanto a experiência está em vias de extinção na sociedade, de fato não apenas a experiência –individual e coletiva- quanto, e por conseqüência lógica, a memória. Na mordernidade já não mais narramos as nossas viagens, apenas mostramos as fotos. Não guardamos informações as mais necessárias para o caminhar da vida, acessamos ao google. Não gravamos os telefones dos entes familiares a quem mais ligamos, apenas acionamos um comando de voz no celular ou apertamos um botão em que está o nome da pessoa a quem nos interessa ligar. Até para um indivíduo falar sobre si mesmo, ele diz “acesse o meu blog, tudo da minha vida está lá”. E assim os seres humanos seguem até que venham a esquecer quem realmente são.

Rousseau: O Contrato Social

Tentarei ser breve e claro para explicar o que é o contrato social. Imaginemos o homem nos seus primeiros tempos, em que ele era livre. Como dito antes, catástrofes naturais os uniriam e eles se organizariam em famílias, que mais tarde daria origem à sociedade. Entre os homens livres existe o conceito do “eu”, a individualidade, mas o ser humano abre mão do “eu” pelo “meu” quando passa a viver em sociedade, pois esta surge com a propriedade privada. Neste estado o homem já não tem total liberdade e para cada um defender o “seu” surge o Contrato Social, em que a vontade individual dá lugar à vontade universal, a força lugar ao poder e a sociedade ao estado de guerra, pois a vontade de ampliar o “meu” faz com que homens ambiciosos entrem em conflito entre si por mais propriedade. Este contrato social mais tarde é regido por leis, que a princípio é a vontade de todos nas mão de todos e em que os que criam as leis devem estar igualmente a elas submetidas.
Para Rousseau existem quatro tipos de leis no seio social: políticas, para reger os homens; civil, para regular a liberdade entre os homens, deixando-os livres entre si mas dependentes do Estado; leis criminais, para aqueles que desobedecem as leis e as normas culturais, a mais importante de todas elas. O Estado, por sua vez, seria formado pelo soberano, que executaria as leis; o governo, que ficaria entre o soberano e os vassalos garantindo os direitos e impedindo abusos através das leis; e logo viriam os vassalos, ou o povo.
O Contrato Social lembra em muitos aspectos a obra O Príncipe de Maquiavel, mas exalta à república. Durante a obra trata-se de todas as formas de governo teorizadas por Aristóteles, acrescentando dados a mais. Diz que a democracia só seria possível em um povo de deuses, pois é muito perfeita para os homens, e, como dito, ressalta a república como único sistema virtuoso para os homens.
Rousseau acreditava que os grandes Estados tinham pouco ou nada de solução, mas chegou a elaborar constituições para pequenos Estados, como a Polônia. A política era um de seus temas favoritos.

Rousseau: a Origem da Desigualdade Entre os Homens

Este foi um tema bem discutido ao longo da disciplina, assim darei algumas pinceladas. Quando apresentei o trabalho sobre o Discurso sobre as Origens e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, pensei que seria fácil expor em sala de aula as idéias de Rousseau, afinal, a desigualdade não é algo difícil de explicar, ainda mais lendo um autor tão apaixonante. Porém foi como explicar a simples frase “penso logo existo” de Descartes. Óbvia de início, mas de difícil explanação.
Rousseau trabalha o homem de natureza e fundamenta a origem da desigualdade com o advento da propriedade privada. A partir do momento que passa a viver em sociedade, desvincula-se da natureza e passa a perverter-se. Essa perversão é a busca de sua virtude original que nunca mais encontrará e a qual sempre procurará substituir, indo sempre ao caminho da desgraça. Jean-Jacques trata a linguagem e o trabalho como a queda do mundo perfeito e a ascensão para a alienação. A propriedade privada e por conseguinte a sociedade é que marcam o estado de guerra. Nessa construção do homem social, as catástrofes naturais é que teriam unido o homem e este organizado-se familiarmente, aos poucos deixando a natureza para constituir uma comunidade aos moldes familiar. Assim surgiria o trabalho como cooperação comunitária e junto a língua como advento da consciência da alteridade entre os próprios homens (MATOS, O., p12). Essas duas propriedades alteram a maneira de ser dos homens e tiram o homem do “amor por si” lavando-o ao “amor-próprio”. Logo viriam a questão do “meu” e assim a propriedade, o trabalho alienado, a submissão. Passou-se da força para o poder. O homem separado da natureza aliena-se por que passa a depender de produtos esternos produzidos por ele para sobreviver, acreditando que depende deles e não do trabalho que os produz. O ser humano caiu do paraíso para o qual nunca mais voltará. Caiu em desgraça e para a desgraça continuará. Um pouco negativo, ele, não?

Rousseau: Sobre as Ciências e as Artes

Só quem leu o Discurso Sobre as Ciências e as Artes sabe a coragem do autor em enviar para o concurso da Academia de Ciências de Dijon, para o concurso sobre o tema “Contribuiu o restabelecimento das ciências e das artes para o aperfeiçoamento dos costumes?”. Ilude-se quem imagina encontrar sequer um elogio às ciências ou às Artes, pois ambas são massacradas pelo autor como responsáveis pela inércia e ignorância humanas. Aliás, é uma verdadeira apologia da ignorância. “A arte amolece o espírito e corrompe a sociedade. Mais vale conquistar o mundo do que ser um mundo de arte”, diz Rousseau (p. 213-14). Ressalta que as grandes civilizações caíram quando passaram a dedicar-se às artes e ciências (Egito, Grécia, Roma); crítica a filosofia, dizendo que ouvindo os filósofos os tomaríamos por um bando de charlatães (p.228). Fala mal nitidamente do próprio iluminismo: “Deus todo poderoso! Tu que tens nas mãos os espíritos, livra-nos das luzes e das artes funestas de nossos pais, e dai-nos a ignorância, a inocência e a pobreza” (p. 229). Desacredita os mestres dizendo que os grandes gênios destes não precisaram, e que o ensinamento de um iria apenas limitar um bom pensador (p. 229). Por fim, por esses trechos é possível visualizar como confrontou aqueles que o deram o primeiro prêmio e exorta a virtude como única arte e ciência que o homem deve seguir.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Resenha do texto “O livro didático no contexto de transição dos paradigmas da história”

O texto de Caimi é interessante e começa por demonstrar que a produção dos livros didáticos de história não ocorre de maneira paralela à produção acadêmica e antes tem com esta uma sintonia, bem como compartilha da evolução do mercado editorial e da historiografia social. Antes seria, então, o livro didático de história “o elo de ligação entre a produção acadêmica e o professor de história”, o que causa uma “inovação teórica e metodológica” .
Podemos entender, então, o livro didático como uma opção política e teórica do autor da obra, o que estará presente na obra. Da mesma forma que o historiador, o autor é um “selecionador”. O historiador seleciona entre “incontáveis manifestações humanas”, enquanto que o autor de livros didáticos julga o que é “digno” de se passado através do ensino. Claro que este autor é, como todos os homens e mulheres, fruto de sua época.
Na polêmica dos campos paradigmáticos que o autor deve seguir, existem cinco eixos centrais, que Caimi coloca na seguinte seqüência: concepção de história, concepção de ensino, periodização, “objetos, fontes e bibliografia” e sujeito histórico. Em seguida, Flávia Eloísa vai se debruçar por explicar um a um destes termos, dividindo os produtores e autores de livros didáticos em grupos, dentro da concepção histórica, como sendo quatro principais, ou seja, história como estudo do passado, história como transformação social, história como, a história do cotidiano e a história como experiência humana.
Dentro da concepção de ensino, Caimi também divide em alguns grupos. Por exemplo, um primeiro movimento majoritário “apresenta uma proposta pedagógica que não oferece espaço para a multiplicidade de leitura historiográfica, para o confronto ou divergência de opiniões” . Tem ainda uma segunda corrente que “propõe uma metodologia dinâmica e crítica, oferecendo mais de uma visão sobre determinado tema” . Claro que ao longo de todo o texto, Flávia Eloísa se coloca ao lado de um aluno atuante, ou seja, posiciona-se diante da segunda corrente proposta.
Quanto à periodização, Caimi acredita ser esta uma das mais complexas tarefas que se impõe ao historiador, o que aponta para três possibilidades principais: o da cronologia linear, de acordo com os modos de produção e o ensino por eixos temáticos. Mais uma vez o texto tende a apoiar a última proposta oferecida.
Para a autora o os livros didáticos ainda estão muito tímidos na abordagens dos objetos, deixando temas sociais ainda ausentes do livro. Novos enfoques (negros, homossexuais, mulheres, analfabetos, pobres, crianças, etc.) devem ser abordados com seriedade sócio-histórica, e a fonte bibliográfica deve ser coerente com o que o autor se propõe. Também devem explorar fontes pouco exploradas na produção didática, como revistas, jornais e outras que estejam próximas ao próprio aluno, ampliando as “possibilidades de leitura histórica ” através destas novas fontes.
Quanto ao autor ao tratar do sujeito histórico, o que se apresenta como maior questão a ser modificada é que geralmente quem produz o livro didático “faz a crítica ao vencedor e omite a história do vencido, destrói alguns mitos e não recupera a experiência das minorias excluídas da história”.
A obra é conclusiva a muito clara quanto às tendências dos autores e se apresenta como um texto de importância a historiadores e professores de história que queiram se dedicar à produção de livros didáticos.